Decidi começar esse blog com a resenha de um dos livros mais sutis e impressionantes que já tive o prazer de ler. Calma, esse não é um daqueles tais de posts encomendados ou patrocinados por editoras ou o diabo a quatro. É simplesmente o livro mais despretencioso que eu já vi.
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Como não amar dedicatórias? |
Falo do Livro dos Abraços, do Eduardo Galeano. Comecei a leitura em 2007, quando ganhei da minha irmã mais velha, e terminei em 2010. Essa demora toda tem sim uma explicação. Esse é o tipo de livro que você tem que ler aos pouquinhos, sem aquela pressão que algumas vezes a gente mesmo faz pra terminar um livro mais rápido pra começar logo outra leitura. Como é um livro de causos e microcontos, a leitura merece que seja demorada. Pra sobrar mais, claro, pra que não acabe logo nem nos deixe órfãos.
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Uma das primeiras ilustrações. |
Serve, também, pra abrir ao acaso. Você abre aleatoriamente e se deleita com o que vier. Aposta?
"1984 tinha sido um ano de merda. Antes do infarto, tinham me operado as costas; e Helena tinha perdido um bebê no meio do caminho. Quando a Helena perdeu o bebê, a roseira da varanda secou. As outras plantas também morreram todas, uma atrás da outra, apesar de serem regadas a cada dia.
A casa parecia maldita. E no entanto, Nani e Alfredo Ahuerma tinham passado por lá alguns dias, e ao ir embora tinham escrito no espelho:
"Nessa casa fomos felizes"
E também nós tínhamos encontrado alegria naquela casa de repente amaldiçoada pelos ventos ruins, e a alegria tinha sabido ser mais poderosa que a dúvida e melhor que a memória, e por isso mesmo aquela casa entristecida, aquela casa barata e feia, num bairro barato e feio, era sagrada".
O conto fica na página 194 e é entitulado A casa. Foi com essa simplicidade sentimental que o Galeano acabou por penetrar na minha vida e agora faz parte da minha estante. Já perdi as contas de quantas vezes dei um exemplar desse livro de presente.
Galeano é um jornalista (<3) e escritor uruguaio mais conhecido pelo seu trabalho em Veias Abertas da América Latina e De Pernas Pro Ar. Mas, ao invés da militância marxista, o livro acolhe todo tipo de leitor que queira um momento de prazer num mundo que preza a rapidez. Parar pra ler um trechinho desse livro no meio do dia, que é quando a gente tá mais cansado devido ao turbilhão de coisas da vida moderna, é um consolo pra vida.
Livro: O Livro dos Abraços
Autor: Eduardo Galeano
Editora: L&PM Pocket
Ano: 2007
Adoreeeeeei! Lerei sempre! :)
ResponderExcluirHA, Eu ganhei um exemplar desses!
ResponderExcluirMuito bom texto, meu amor! =D