sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Muito amor nesse 12 de outubro - O Livro dos Abraços


Decidi começar esse blog com a resenha de um dos livros mais sutis e impressionantes que já tive o prazer de ler. Calma, esse não é um daqueles tais de posts encomendados ou patrocinados por editoras ou o diabo a quatro. É simplesmente o livro mais despretencioso que eu já vi.
Como não amar dedicatórias?

Falo do Livro dos Abraços, do Eduardo Galeano. Comecei a leitura em 2007, quando ganhei da minha irmã mais velha, e terminei em 2010. Essa demora toda tem sim uma explicação. Esse é o tipo de livro que você tem que ler aos pouquinhos, sem aquela pressão que algumas vezes a gente mesmo faz pra terminar um livro mais rápido pra começar logo outra leitura. Como é um livro de causos e microcontos, a leitura merece que seja demorada. Pra sobrar mais, claro, pra que não acabe logo nem nos deixe órfãos.

Uma das primeiras ilustrações. 

Serve, também, pra abrir ao acaso. Você abre aleatoriamente e se deleita com o que vier. Aposta?

"1984 tinha sido um ano de merda. Antes do infarto, tinham me operado as costas; e Helena tinha perdido um bebê no meio do caminho. Quando a Helena perdeu o bebê, a roseira da varanda secou. As outras plantas também morreram todas, uma atrás da outra, apesar de serem regadas a cada dia. 
A casa parecia maldita. E no entanto, Nani e Alfredo Ahuerma tinham passado por lá alguns dias, e ao ir embora tinham escrito no espelho:
"Nessa casa fomos felizes"
E também nós tínhamos encontrado alegria naquela casa de repente amaldiçoada pelos ventos ruins, e a alegria tinha sabido ser mais poderosa que a dúvida e melhor que a memória, e por isso mesmo aquela casa entristecida, aquela casa barata e feia, num bairro barato e feio, era sagrada".

O conto fica na página 194 e é entitulado A casa. Foi com essa simplicidade sentimental que o Galeano acabou por penetrar na minha vida e agora faz parte da minha estante. Já perdi as contas de quantas vezes dei um exemplar desse livro de presente.

Galeano é um jornalista (<3) e escritor uruguaio mais conhecido pelo seu trabalho em Veias Abertas da América Latina e De Pernas Pro Ar. Mas, ao invés da militância marxista, o livro acolhe todo tipo de leitor que queira um momento de prazer num mundo que preza a rapidez. Parar pra ler um trechinho desse livro no meio do dia, que é quando a gente tá mais cansado devido ao turbilhão de coisas da vida moderna, é um  consolo pra vida.

Queria agradecer a Mikaela Brasil por ter me ajudado - mesmo que indiretamente - a criar esse blog. Claro que me inspirei no blog dela, que já é consagrado e cheio de coisas legais. Vale muito a pena ler a postagem que ela fez sobre o livro Cinquenta Tons de Cinza.



Livro: O Livro dos Abraços 
Autor: Eduardo Galeano
Editora: L&PM Pocket
Ano: 2007

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